Mateus
Capítulo 7

  • O Julgamento ao Próximo
  • 1. Não julgueis, para que não sejais julgados. Mt 7:1
    Jesus mostra que é possível ajudar nosso semelhante com conselhos e críticas (Mt 7.5 e Mt 23:13 -39), bem como devemos estar sempre dispostos a aprender, avaliar e ensinar (Rm 2.1; 1Co 5.9; 2Co 11.14; Fp 3.2; 1Jo 4.1; 1Ts 5.21).Entretanto, como cristãos, nosso dever é amar antes de julgar. Um coração repleto do amor de Deus não será acusador, mesquinho, invejoso, crítico contumaz ou difamador. A marca do cristão deveria ser seu amor irrestrito e altruísta pelo próximo, em especial por seus irmãos em Cristo (Jo 13.5; Jo 14.15; Rm 12.10; 1Pe 1.22).
  • 2. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados; e com a medida que medirdes vós sereis medidos.
  • 3. E por que tu observas o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a viga que está no teu próprio olho?
  • 4. Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, e, eis uma viga no teu próprio olho?
  • 5. Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão. Mt 7:5
    Jesus usou muitas histórias (parábolas) e figuras de linguagem para ensinar. Em 19.24, por exemplo, Ele fala de um camelo passando pelo fundo de uma agulha. Nesta outra hipérbole, Ele compara uma partícula de serragem ou pedaço de qualquer material com uma grande trave (viga) de madeira usada na estrutura de construções, para destacar a humildade, carinho e sensibilidade que devemos ter para com nosso semelhante, quando tivermos de emitir um juízo, criticar ou aconselhar. Pois somos sujeitos a erros, fraquezas e dificuldades iguais ou maiores que os de qualquer pessoa.
  • 6. Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que as pisem com os seus pés, e voltando-se novamente, vos despedacem.
  • A Persistência na Oração
  • 7. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á.
  • 8. Porque aquele que pede, recebe; e o que busca, encontra; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
  • 9. Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?
  • 10. Ou se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?
  • 11. Então se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem? Mt 7:11
    Jesus explica que o bem e o mal têm, às vezes, certa semelhança inicial, podendo enganar alguém ingênuo ou desinformado. A pedra a que Jesus se refere era parecida com os pães orientais da época: redondos, achatados e endurecidos (por isso o pão suportava longas viagens e era quebrado para ser servido). A cobra peçonhenta é semelhante às enguias comestíveis, apreciadas pela culinária da época. O Senhor é Pai bondoso e fica feliz em dar os presentes (dádivas) que seus filhos lhe pedem, mas só Ele sabe o que é realmente bom para cada um de nós.
  • 12. Portanto, todas as coisas que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também a eles; pois esta é a lei e os profetas. Mt 7:12
    Este versículo é conhecido em todos os continentes como “A Regra de Ouro”, a manifestação prática do amor cristão. Orienta-nos Jesus aqui quanto ao procedimento diário: o amor, sem egoísmos, deve ser a força motriz das nossas ações (1Co 13:4 -8), concedendo ao próximo o que buscamos para nosso próprio bem. Devemos chegar ao ponto máximo do amor e da fé em Deus, que é retribuir com o bem a qualquer pessoa que, por algum motivo, nos ferir ou fizer qualquer mal. Foi assim que Deus respondeu à rebelião e indiferença da humanidade, oferecendo-se em sacrifício, para nos salvar pela Graça (Ef 2:8 -9). A “Lei e os Profetas” é uma referência a toda a Escritura Sagrada, tanto em sua letra como em seu pleno conteúdo (Rm 13:8 -10; Mt 5.17).
  • A Porta Estreita e a Porta Larga
  • 13. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e amplo é o caminho que conduz à destruição, e muitos são os que entram por ela;
  • 14. E porque estreita é a porta e apertado é o caminho que conduz à vida, e são poucos os que a encontram. Mt 7:14
    Jesus denomina o caminho para o céu de “porta estreita” ou “caminho difícil”, em algumas versões “caminho apertado”. Não porque Deus tenha diminuído sua generosidade, graça e desejo de salvar a todos (2Pe 3.9), ao contrário, estamos vivendo a “Época da Graça” onde todos – mais do que nunca – são bem-vindos ao Reino de Deus. Entretanto, poucos permanecerão no Caminho, porque jamais foram dele realmente, e não suportam o negar-se a si mesmo, as renúncias do “Eu” nem os apelos de uma sociedade cada vez mais hedonista e materialista. A idéia e a figura dos dois caminhos é muito anterior a Cristo, data de 400 a.C e foi difundida através do trabalho filosófico de Sócrates. O mesmo pensamento reaparece em duas grandes obras do primeiro século depois de Cristo: Didaquê e Epístola de Barnabé.
  • A Árvore e seu Fruto
  • 15. Cuidado com os falsos profetas, que vêm a vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.
  • 16. Por seus frutos os conhecereis. Homens colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
  • 17. Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, mas a árvore corrompida produz frutos ruins.
  • 18. Não pode a árvore boa dar frutos ruins, nem pode a árvore corrompida dar frutos bons.
  • 19. Toda a árvore que não produz frutos bons corta- se e lança-se no fogo.
  • 20. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
  • 21. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino do céu, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
  • 22. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos os demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
  • 23. E então lhes declararei: Eu nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós trabalhadores da iniquidade.
  • O Prudente e o Insensato
  • 24. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem sábio, que construiu a sua casa sobre a rocha;
  • 25. e desceu a chuva, vieram as inundações, e sopraram os ventos e golpearam contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
  • 26. E aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
  • 27. e desceu a chuva, vieram as inundações, e sopraram os ventos e golpearam contra aquela casa, e ela caiu, e grande foi a sua queda.
  • 28. E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, as pessoas se admiraram da sua doutrina;
  • 29. pois ele os ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas. Mt 7:29
    Os doutores da lei (em grego grammateis, nomikoi) e os mestres da lei (em grego nomodidaskaloi) eram técnicos no estudo da lei de Moisés (Torah). Em princípio era uma função reservada aos sacerdotes. Esdras, um homem de Deus, acumulou as funções de sacerdote e escriba (em hebraico sôpherïm). Veja Ne 8.9. Com o passar do tempo, os escribas se tornaram extremamente formais e espiritualmente estéreis. Além disso, muitos se envolveram com o partido político dos fariseus e deixaram de ser imparciais em relação ao ensino da lei. Jesus, entretanto, ensinava com “exousia”, em grego, “poder sobrenatural” que a todos deixava maravilhados, pasmos, atônitos (1Co 2:4 -5). Isso despertou a inveja e o ódio de muitos “líderes religiosos” contra Jesus Cristo.